Susan Sontag em A Doença Como Metáfora (Quetzal Ed., 2009) aborda o medo da doença, hoje o cancro que ocupa o lugar da tuberculose, como sintoma do medo ocidental da morte. E ilustra esse medo da doença através de várias situações em que se evita o mais possível pronunciar o próprio nome da doença. Esta concepção mágica da palavra prender-se-ia com o seu poder realizante: bastaria invocar o nome, para a doença se apossar da pessoa, tornar-se presente. Lembrei-me, então, que também entre nós existe esse temor: quando nos órgãos de comunicação se noticia que alguém faleceu vítima de cancro, apenas se diz que foi vítima de doença prolongada. A expressão doença prolongada evita o nome, substitui a terrível palavra. Estamos a querer fintar a morte.
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