A propósito das divulgações do Wikileaks, tem-se discutido o valor do segredo e da transparência. Ora, uma sociedade de transparência absoluta não só é impossível, como seria uma sociedade perigosa, de olhos e olhares a vigiarem-nos a tempo inteiro. Há, pois, que preservar espaços e zonas de segredo.Quer para salvaguardar a vida privada, quer para proteger a actuação do Estado, nomeadamente no domínio da diplomacia e das relações internacionais. Se não protegermos a via diplomática na abordagem dos diferendos entre os Estados, damos azo a que estes recorram à violência na resolução dos problemas, por não ser possível a via da diplomacia. Só que esta via exerce-se, nomeadamente, através do segredo e da discreção. Aqui, a transparência nem sempre é benvinda, tal como o segredo nem sempre é mau. A ambiguidade e a duplicidade são estratégias de actuação dos Estados que devem ser preservadas pelo sergredo.
No caso português, a ambiguidade perante ingleses e alemães foi usada com êxito no adiar da nossa intervenção na Primeira Guerra. Se, na altura e por hipótese absurda, o Wikileaks divulgasse as nossas posições ambíguas, as instruções dadas aos embaixadores em Londres e em Berlim e as informações que estes enviavam para Lisboa, os nossos soldados teriam ido mais cedo para os campos de batalha da Flandres encontrar o sofrimento e a morte.
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