Slavoj Zizek, psicanalista e filósofo esloveno e professor visitante na New School for Social Research, em Nova Iorque, conta-nos no seu livro Da Tragédia à Farsa (Lisboa, Relógio D'Água, 2010) uma anedota cuja história se passa no século XV, quando a Rússia estava ocupada pelos mongóis e onde um guerreiro mongol viola a mulher de um camponês russo. Só que antes pede ao camponês que lhe pegue nos testículos, pois como o chão está todo coberto de pó, não os quer sujar. Quando o guerreiro termina e se afasta, o camponês põe-se a rir e a dar saltos de alegria. Perante a mulher surpreendida com o seu comportamento, explica-lhe que tinha enganado o violador, pois este tinha ficado com os tomates sujos de pó. Esta anedota serve para Zizek se interrogar sobre os caminhos da esquerda. E pergunta: "Não estará a esquerda numa situação semelhante?" A esquerda seria, assim, o pobre camponês russo que, perante a realidade brutal e violenta, se limita a não segurar os tomates do poder e deixar que eles se sujem com o pó do caminho, rindo e dançando com essa espécie de artimanha. Com essa espécie de esperteza saloia. E penso, a propósito, nas manifestações deste sábado. No slogan dos Homens da Luta, a luta é alegria, trá-lá-lá. Afinal o que estivemos lá a fazer senão cantar e rir. É esse o caminho da esquerda? Cantando e rindo?... Satisfeitos porque enganámos quem nos fode ao não lhes segurarmos nos tomates?...
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