quinta-feira, 24 de novembro de 2011

charutos monte cristo

O que pode signficar um nome? Que histórias se escondem por detrás dum nome? Um nome banal ou inócuo como o dos charutos monte cristo, por exemplo. Atente-se nesta surpreendente história contada por Alberto Manguel em Uma História da Leitura (Lisboa, Ed. Presença, 2010 - 3ª ed., pp. 121 e ss.).
Em meados do século XIX, menos de 15% do operariado cubano não sabia ler. Saturnino Martínez, operário da indústria de charutos e poeta, publicava um jornal para os trabalhadores, La Aurora. Só que enfrentava o problema do analfabetismo. Lembrou-se, então, de criar um leitor público. Foi junto do diretor do liceu de Guanabacoa propondo que a escola colaborasse na promoção da leitura em voz alta no local de trabalho. O diretor da escola dirigiu-se aos trabalhadores da fábrica de charutos El Figaro e convenceu-os da utilidade da iniciativa. Escolheu-se, então, um trabalhador que seria o leitor, o lector oficial, pago pelo seus restantes trabalhadores para lhes ler enquanto enrolavam os charutos, um trabalho mecânico e cansativo. Em 1866, o jornal La Aurora noticiava a leitura nas oficinas, levando os trabalhadores a familiarizarem-se com os livros, promovendo assim o conhecimento e a amizade. Com efeito, várias fábricas seguiram o exemplo. E foram tão bem sucedidas estas sessões públicas de leitura nos locais de trabalho que acabaram por ser consideradas subversivas.
O material destas leituras era escolhido previamente pelos trabalhadores e ía de panfletos políticos a romances e coletâneas de poesia. Mas tinham os seus favoritos. Entre eles, O Conde de Monte Cristo, de Alexandre Dumas. Esta escolha tornou-se tão popular entre os operários enroladores de charutos que um grupo de trabalhadores escreveu ao autor, pedindo-lhe autorização para dar o nome do herói do seu romance a um dos seus charutos. Dumas consentiu e nasceram os «charutos Monte Cristo».

3 comentários:

  1. Conto esta história variadas vezes aos meus alunos por duas razões:por um lado, o facto de a cultura poder ser subversiva, o que só prova o seu valor; por outro, para dar conta do prazer que a leitura pode proporcionar. Pergunta: tem adiantado? Não! Mas lá vou insistindo...

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