Talvez seja mais correto falarmos de aventura democrática do que propriamente de sociedade democrática para dar conta da indeterminação radical enquanto característica constitutiva da democracia moderna (Chantal Mouffe, 1996:25). A democracia é caracterizada pela "dissolução dos sinalizadores de certeza" (Claude Lefort, Democracy and political theory, Oxford, 1988, p. 19), tornando-se assim o reino da provisoriedade, da indeterminação, do indefenível. A democracia é um espaço de total disponibilidade para as soluções que a comunidade for encontrando e produzindo para os seus vários conflitos. Daí escapar a um substancialismo fundador ou acabar por dissolver as referências tradicionais que servem de fundamento: Deus, Natureza, Razão. Enquanto espaço duma total disponibilidade, a democracia é um permanente convite para as soluções (provisórias) que a comunidade humana vá encontrando. Enquanto espaço de indeterminação e aventura, a democracia é um empecilho na crise atual.
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